domingo, 2 de dezembro de 2012

Futebol da Base: O grande PROBLEMA do futebol brasileiro

O título deste post NÃO está errado, como pode a categoria de um esporte de um país que revela vários jogadores que ficam famosos rapidamente ser um PROBLEMA?

Pois é, o nosso futebol de base revela jogadores por SORTE e não por competência.

Nossos clubes, com raríssimas exceções, não fazem um trabalho voltado ao desenvolvimento dos jovens, à sua formação, à correção dos seus "defeitos", a aprender a jogar coletivamente e não fazem o trabalho básico de fundamentos do futebol. 

Simplesmente, montam os times, botam a molecada para jogar e ficam gritando à beira do campo os famosos "pega", "corre", "marca".

Para ilustrar e facilitar o entendimento de vocês, vamos comparar o futebol de base do Brasil com 2 rivais importantes e de peso no esporte, Argentina e Espanha.

No Brasil, atualmente, somos cerca de 200 milhões de habitantes, certo? 
Quantos são praticantes do futebol de campo? 
Cerca de uns 20 milhões?
Espanha e Argentina, têm cada um, cerca de 15 a 20 milhões.
Quantos são praticantes do futebol de campo?
Uns 2 milhões? Talvez nem isso.

Quantos jogadores de alto nível, craques mesmo, nós (Brasil) revelamos nos últimos anos? Vamos falar que Diego, Robinho, Kaká, William (que está no Shaktar Donetsk), Neymar e Lucas, pode ser? 6, portanto, e com muito boa vontade já que os 3 primeiros citados, a meu ver, nunca foram tão craques assim lá fora e os 2 últimos só jogaram em clubes brasileiros.
Quantos a Espanha e a Argentina revelaram? Mais ou menos isso (cada um), certo?
Façam, agora, a relação revelações/praticantes e verão que número ridiculamente menor é o do Brasil.

Para confirmar tudo que estou falando, basta assistir aos campeonatos das categorias de base que são transmitidos na ESPN e SPORTV (Copa do Brasil sub-20) e na Rede TV (Campeonato Paulista sub-20).

Nesses campeonatos, NÃO se vê praticamente nada de novo. As equipes são um apanhado dentro de campo, em sua grande maioria, não têm conjunto, não têm esquema tático definido, são lentas e falta qualidade de passe, finalização, cruzamentos, cobranças de falta ensaiadas. Falta tudo.
Você vê uns 2 ou 3 times que trabalham com isso.

Ontem, por exemplo, na final do Campeonato Paulista sub-20, o São Paulo atuou de maneira ridícula. Nem parecia o clube que se orgulha de ter um centro de treinamento, para a base, de 1º mundo. 
Enquanto isso, o Santos, que também tem um CT de alto nível para as categorias inferiores, apresentou futebol moderno, tático, eficiente.
Por que essa diferença tão gritante?

Porque a grande maioria dos clubes brasileiros trata o futebol de base como REFUGO ou até como PUNIÇÃO aos profissionais que não se dão bem nos times principais. 
Digo, Sérgio Baresi dirigiu, interinamente, o time profissional do São Paulo por um tempo no passado recente e não foi nada bem.
Resultado, em vez do clube focar em desenvolver o profissional, reciclá-lo, fazê-lo estudar mais sobre táticas e sobre como ter mais liderança sobre o grupo, o clube simplesmente o relegou à base. Largou-o esquecido e parado no tempo. 
Mandou um profissional com conceitos fracos e ultrapassados de futebol para trabalhar na formação dos seus atletas??? Está certo isso?
Não seria melhor mandar um profissional experiente?

Isso, infelizmente, não é um problema só do tricolor paulista. É sim um problema nacional!

Vamos comparar de novo?
O Barcelona pegou um ex-jogador com história no clube, Pep Guardiola, desenvolveu-o e deu todo o suporte para que ele trabalhasse nas categorias inferiores do clube. Ele, para quem não sabe, antes de se consagrar no super time que montou no profissional, era treinador do Barcelona B e disputava a 3ª divisão do campeonato espanhol. 
Quando Frank Rikjaard foi demitido pelo clube, o presidente do Barcelona NÃO hesitou em nenhum momento e nem se deu ao trabalho de procurar outro treinador no mercado já que estava formando um profissional IDENTIFICADO com a história do clube. Guardiola conhecia a filosofia do clube, entendia de esquemas táticas, de conjunto e sabia como conquistar as estrelas da equipe. Pronto, deu no que deu. Por que nossos clubes não podem fazer algo parecido?

Esse é um dos motivos de nossos clubes terem tanta dificuldade em revelar mais jogadores de ponta. É muito empresário que só pensa em ganhar dinheiro rapidamente envolvido no meio, é muita gente fraca trabalhando no desenvolvimento dos nossos jogadores, é muita falta de conceito de futebol moderno e há muito pouca interação entre os times de base e os times profissionais dos clubes.

Dizer que esse ou aquele clube usa vários jogadores da base nos seus times principais NÃO é dizer que ele investe na base.

Investir na base significa trabalhar os jovens, treinar e corrigir suas deficiências, é ensiná-los a serem profissionais, a saberem lidar com a pressão, ensiná-los os fundamentos básicos do esporte (passe, chute, cruzamento, marcação, posicionamento etc), é dar-lhes uma meta a ser cumprida, é montar planos de carreira para todos os jogadores, não só salariais, mas também de crescimento com perspectivas de se profissionalizarem no longo prazo.

Vejam, estou cobrando PROFISSIONALISMO dos clubes brasileiros. Nosso futebol de base é tratado com ENORME amadorismo há anos!

Revelamos vários craques, gênios da bola, mais pela enorme quantidade de praticantes do esporte do que por capacidade técnica dos clubes. Isso é inadmissível ainda mais quando se envolve os valores que são gastos com mídias, publicidades e prêmios aos praticantes do futebol.

Nosso futebol perde espaço para outros países há anos e o que estamos fazendo para recuperar o mercado? Nada, não é mesmo?

Ficamos esperando que surja algum Robinho, algum Neymar de tempos em tempos para alimentar a babaquice do ditado inventado pela Rede Globo (que somos o país do futebol).
Quando nossos dirigentes vão resolver mudar?
Quando vão focar em ter uma gestão mais profissional na base?
Quando vão querer ganhar dinheiro por conta própria ao invés de ficar de joelhos implorando pelos empréstimos/adiantamentos da Rede Globo?

Já passou da hora de acabarmos com esse amadorismo que ronda o esporte mais tradicional do país e, se não fizermos nada rapidamente, vamos perder cada vez mais espaço, cada vez mais mercado e nossos clubes vão ficar cada vez mais endividados.

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